Amanda aprendeu a falar, e nunca vai parar

É engraçado como desde que tive a ideia de criar esse espaço aqui como forma de terapia pessoal muitas coisas aconteceram. Muitas coisas que me fizeram adiar o lançamento, mudar os planos de escrever toda semana, entre outros detalhes. Tudo isso tem sido muito valioso para mim, pois está sendo uma baita oportunidade de trabalhar a minha relação com o excesso de controle em tudo.

Quando convidei a Mandy para uma entrevista sobre um assunto que eu queria abordar aqui, eu não tinha ideia do que estava por vir: uma verdadeira aula inspiracional. Então, mudando novamente os planos que eram de adaptar a entrevista para um texto meu, decidi publicar as respostas dela na íntegra. Com vocês, Amanda:

Foto por Renata Monteiro

“Eu empreendo desde 2012, ano que migrei de carreira de Diretora de arte para Fotografia, mas tenho duas empresas ativas atualmente, a Essência do Bem – Fotografia, com meu sócio Felipe há 5 anos no mercado, e a Luz Consultoria, que abri logo no início da pandemia.

O setor de eventos foi um dos mais afetados pela crise da COVID-19 no país, alvarás foram suspensos, datas adiadas e muitas comemorações canceladas. Ano passado, meu sócio e eu passamos por um processo intenso de mentoria de negócios pois estávamos vivendo uma das melhores fases da Essência do Bem até então – estávamos caminhando para o setor de educação, que tanto nos encantava. Nosso objetivo era remodelar nosso negócio e reduzir a jornada de trabalho para passar mais tempo com nossas famílias, já que trabalhar com eventos consumia muito da nossa rotina e nos afastava das pessoas que tanto amamos. 

Toda essa mudança foi essencial para que chegássemos em 2020 muito mais seguros e estabilizados, o que ajudou com que não sofrêssemos tanto com as consequências do coronavírus no mercado de eventos, o que infelizmente não aconteceu com nossos amigos e amigas de profissão.

Foi daí que surgiu a ideia da Luz.

Nos bastidores, eu sempre colaborei com o que eu gosto de descrever como “despertar” para uma maneira mais sincera e consciente de comunicar o valor da sua marca digitalmente. Uma das características mais presentes no meu trabalho na Essência do Bem é o respeito que temos com a nossa própria individualidade e com as histórias que contamos. Acredito que só assim desenvolvemos uma linguagem honesta capaz de estabelecer uma conexão muito profunda com o ser humano. Por sermos lembrados por isso, sempre fui solicitada para somar em projetos criativos de empresas de amigos ao longo desses anos todos, mas nunca publicamente, pois não era meu objetivo.

Acontece que eu passei a ver muitas empresas de amigas queridas sofrendo consequências duríssimas e decidi ajudar, da maneira que consegui. No meio disso, a Luz se desenvolveu pra um lado que me completou de uma nova maneira – e agora ela vai caminhar para um projeto maior, que vai me permitir inspirar e estimular novas empresas a se reinventarem e ocuparem espaços que antes eram vistos como tão distantes.

Amanda aprendeu a falar
Foto por Amanda Marques

Me sinto muito grata por ser remunerada para fazer algo que me agrega tanto valor emocional, num mundo onde mulheres negras não são visíveis.

O que eu mais gosto de fazer é inspirar e gerar movimentos através disso e sim, é meu ganha pão. Me sinto muito grata por ser remunerada para fazer algo que me agrega tanto valor emocional, num mundo onde mulheres negras não são visíveis.

Sei que ocupo um lugar que muitas mulheres não têm acesso, minha família me proporcionou estudo, liberdade, criatividade e acolhimento. Isso me fez uma pessoa muito bem sucedida, mas ainda acho que tenho um caminho enorme pela frente, porque não acredito em vitórias individuais. Acho que só me sentirei bem sucedida de verdade quando o meu trabalho puder fazer a diferença na realidade de uma mulher que vai fazer diferença na vida da filha, que vai crescer sabendo que não é invisível; ou na vida da amiga, que vai se movimentar e gerar novas oportunidades, e por aí vai. Acredito no coletivo, na vitória coletiva.

Mesmo me considerando extremamente privilegiada, eu sempre sofri racismo e os efeitos emocionais que ele traz como consequência. Fui vítima de racismo e assédio na escola, na faculdade, no trabalho, na rua e nas minhas relações, o que me tornou uma mulher muito insegura, instável e com uma energia baixa, onde eu precisava o tempo todo de aprovação para tudo o que eu fizesse. Como se eu precisasse pedir permissão pra viver.

Perdi muitas oportunidades. Só fui ouvida quando era interessante para o outro ter uma mulher preta por perto. Nunca foi genuíno. Essa descoberta da minha existência e voz é recente e é por isso que eu não paro de criar, que eu não paro de fazer. Agora que eu aprendi a falar, nunca vou parar.

Acredito que os espaços estão sendo ocupados aos poucos, mas que temos um longo caminho pela frente. Enquanto não naturalizarmos o sucesso da mulher e do homem preto, vamos nos esbarrar com falas como: “mas é tudo culpa do racismo, já é muito melhor do que antes, né?”. Não devemos nos conformar. Devemos incentivar, apoiar e ter atitudes anti-racistas todos os dias da nossa vida. O sucesso de um preto não é o fracasso de alguém.

Acredito que a melhor forma de auxiliar é dar a visibilidade que merecemos. Apoiar causas que permitem nossas vozes serem ouvidas. Deixar nossas crianças criarem livres. Respeitar nossos defeitos, enaltecer nossas características, incentivar nossos sonhos, viabilizar nossos projetos. Não tem nada que machuca mais do que ser ignorado.

Ser empreendedor é ser responsável pela primeira força que bate na água e que gera ondas. Essas ondas são pequenas e poderosas, porque elas rebatem por gerações e gerações. Precisamos nos lembrar que, ao tomar uma iniciativa como essa, estamos na linha de frente de uma movimentação muito poderosa para aqueles que virão a seguir. Essa é a força que me move, quero um mundo onde minha filha(o) acorde e tenha escolhas.”

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